sexta-feira, 6 de outubro de 2023

O meu, o seu, os nossos círculos





Eu perdi uma amiga... confessou ela.
Mas vc não consegue tê-la de volta? perguntei
Não há como resolver, respondeu ela com voz triste.
Não vendo como ajudá-la, apenas mudei de assunto, e acrescentei a história dela a outras que tem me feito pensar bastante sobre essa questão de relacionamentos, principalmente os que se dissolvem. Por que alguns vão e outros ficam, porque uns fazem questão de ficar apesar dos B.Os e D.Rs e outros se vão por qualquer ranhura? por que se abre mão de uns e outros não?  alguns dirão: ah, isso faz parte da vida, mas outros sentem dor quando alguém se vai. E o motivo da "ida" faz diferença também.
Relacionar-se é uma condição humana necessária para a sobrevivência, mas saber relacionar-se é uma decisão imprescindível ao bem estar e felicidade.
A universidade de Harvard desenvolve uma pesquisa há mais de 80 anos com um grupo de pessoas e uma das conclusões divulgadas em 2016 é que manter boas relações é o segredo da felicidade. Num outro estudo Robert Waldinger conclui que "amizades calorosas tornam as pessoas menos propensas ao diabetes e a doenças da artéria coronária, (pelo meu diagnóstico me faltou calor nas amizades rsrsr). 
O fato é que o mundo já alcançou seus 8 bilhões de habitantes, desse total impressionante, uma parcela minúscula, fará parte do meu (ou do seu) círculo de relacionamentos . Dizem os estudiosos que conheceremos cerca de 5.000 pessoas durante a vida, e dentre estes, 05 ou 06 pessoas serão nossos entes mais queridos, até 15 serão bons amigos, até 50 amigos, até 150 serão pessoas significativas.  Ressaltando que esse número oscila dependendo do quão introspectivo ou extrovertido uma pessoa é, e as mulheres tendem a manter um círculo de relacionamento maior que os homens. 
Sendo mais ou menos calorosos, ínfimo diante dos 8 bilhões do mundo inteiro, é certo que precisamos manter um círculo de bons afetos para viver mais saudáveis  e felizes. Quem não se sente restaurado depois de umas horinhas de boa conversa. Mas o cultivo é sem dúvida a chave para o sucesso e durabilidade dos bons relacionamentos. Claro que não conta os amigos virtuais que dão like de vez em quando nas nossas fotos postadas nas redes sociais. O colo e  o ombro reais,  insubstituíveis.  Os relacionamentos que devem ser cultivados são aqueles que estão sempre nas nossas listas, aqueles que encabeçam a relação de convidados para festinha de aniversário, jantarzinhos, passeios, aqueles mais visíveis nas conversas de aplicativos etc. E como diz a canção de Osvaldo Montenegro, essa lista precisa ser atualizada.
 "Faça uma lista de grandes amigos,
quem você mais via há dez anos atrás,
quantos ainda vê todo dia,
quantos você já não encontra mais...
quantas pessoas que você amava
e hoje acredita que amam você". 

Parece algo banal, mas é importante dar nomes aos afetos e aos desafetos, principalmente para elaborar e não perder tempo, nosso preciosíssimo tempo com o que diz ou com o que pensam aqueles que definitivamente não estão no nosso círculo. Ocupar-se com isso irá revelar um pouco da gente também, o tamanho da lista é proporcional à nossa capacidade de nos dedicarmos aos outros, ao tempo que gastamos com alguns, se sabemos ouvir, se respeitamos o outro com suas diferentes ideias  suas escolhas. A famosa frase da raposa em O Pequeno Príncipe ensina: "Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante, afinal ela era igual a todas as outras rosas". O tempo que dedicamos aqueles que nos são caros, tem uma função dupla, se por um lado deixa claro aos nossos o quanto nos são especiais, por outro faz crescer em nós sentimentos de felicidade. O australiano John Torrant diz que "uma boa vida não é o destino, mas o caminho e com quem você caminha". 
Vale lembrar que aquelas 5 ou 6 pessoas mais próximas com quem caminhamos, nos influenciarão significativamente ao longo dos anos, esse é um ponto a ser considerado ao fazer a lista dos que estão no nosso círculo. Quando se é jovem por exemplo, os amigos podem afetar as decisões que tornarão  a vida boa ou não. Avaliar os relacionamentos é pedagógico também, afinal, se alguém é menos "quisto" pelos círculos, há de reavaliar suas próprias atitudes, desculpar-se e mudar a postura para ter e promover uma boa vida. 
Diante das Bilhões de pessoas no mundo inteiro, temos o privilégio de fazer parte de um grupo, que se torna especial, seleto, porque é o NOSSO círculo. Sejam 05, 15, 50 ou 150 pessoas, devemos a eles afetos entregues em diferentes embalagens, às vezes respeito, outras tolerância, ombro, escuta ou ajuda, nossa saúde e felicidade dependem disso, dar e receber afetos na caminhada. 

Jossiana Val
setembro 2023.